segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Ao amor basta o amor...

"De todos os dias enamorados que passam, em que uns são sempre mais solarengos que outros, não se percebe, porque não é uma questão de lógica, se ao amor basta apenas o prórpio amor e nada mais.
O amor nasce, cresce e morre entre duas pessoas, nunca nasce, assim como nunca morre sozinho. Nasce num olhar e desenvolve-se num beijo, daí para a frente é vê-lo crescer. Precisa que o deitem na cama e lhe leiam uma história para adormecer porque senão tem pesadelos. De madrugada, há que lhe aconchegar a roupa para se sentir quente e tranquilo, para ter sonhos felizes, uns atrás dos outros e de manhã, com um sorriso que iluminaria todos quanto o vissem, diz 'bom dia!', como se fosse o melhor dia de todos, só porque lhe leram uma história, lhe aconchegaram a roupa e teve sonhos felizes. É destas coisas que vive o amor ou, melhor, também é destas coisas que vive o amor. Porque o amor também se sustenta, também trabalha para que possa disfrutar e ser disfrutado, mas sobretudo, o amor é imenso. Se não existisse o mesmo amor em dois corações não haveria história que o fizesse feliz ou a desnecessidade de o aconchegarem era tão evidente como dispensável. Se não houvesse quem o olhasse e o beijasse, se não houvesse quem o sentisse e não tivesse quem aquecer, provavelmente, desvaneceria lentamente, porque com o amor estabelecem-se laços como se de sangue fossem, daqueles que o tempo quebra a custo e à custa de muita dor.
Se se ama, se se é amado é certo que isso não chega, mas talvez vá bastando. Talvez aquilo que se é seja maior que aquilo que se sente, o que até é normal - antes de amarmos existimos e respiramos. Mas depois, aquilo que somos sem esse amor, quando bate e continua a bater nos dois coração, com forças que não sendo iguais são bastante parecidas, é pouco... A história que lemos ao deitar já não nos faz feliz, nem a ninguém... Daquilo que se diz só se ouve um eco e daquilo que somos há uma parte que nunca está, que ficou noutro lado. E pertence a outra pessoa.
E é por isso, porque duas metades nunca são uma só unidade, uma laranja inteira ou um beijo a par, que as metades voltam e se procuram, porque se completam e complementam. Porque só fazem sentido ali. É aí que percebem que ser-se um é muito melhor que ser-se metade e dão, pela outra metade que lhes falta, a vida. Uma vida, lado a lado."
De Sónia Abrantes
...Para quê dizer algo mais, quando ficou tudo dito...